Treinamento com oclusão muscular: benefícios e precauções

Apesar de ainda causar um certo “espanto” e estranheza aos frequentadores de academia, o treinamento com oclusão vascular vem sendo estudado a cerca de 50 anos e não faltam evidências científicas para corroborar com a eficiência e segurança deste método com o objetivo principal de aumento de força e hipertrofia.

Em geral, os protocolos para o treinamento visando ganhos de força e hipertrofia orientam um treinamento com cargas de pelo menos 70% de uma repetição máxima (1RM),porém muitas pessoas não podem ou não conseguem realizar o treinamento de força com alta intensidade devido a dores articulares, lesões cirúrgicas e neurológicas, entre outras causas. A oclusão vascular pode ser uma excelente estratégia de treinamento, não só para populações clínicas, mas também para atletas em diferentes fases da periodização, devido a possibilidade de treinar em cargas muito inferiores e ainda assim obter melhoras na força e nas respostas morfológicas.

Esta estratégia envolve a aplicação de um manguito inflável ou torniquete em torno de um membro (proximal para os músculos que estão sendo treinados), que limita a entrega de sangue para os músculos adjacentes. Os mecanismos fisiológicos que sustentam as respostas adaptativas ainda não são completamente conhecidos, entretanto algumas respostas adaptativas agudas e crônicas para o exercício de resistência com oclusão são  bem discutidos na literatura.

Uma extensa revisão publicada na Sports Medicine em 2014 destacou os possíveis mecanismos responsáveis pelas adaptações oriundas do treinamento com oclusão:

  1. Mecanismos Primários: tensão mecânica e estresse metabólico (acúmulo de metabólitos durante o exercício).
  2. Mecanismos Secundários: mecanotransdução; Dano Muscular; Hormônios Sistêmicos e Localizados; Inchaço Celular; Espécies Reativas de Oxigênio; Óxido Nítrico; Proteínas de Choque Térmico; Recrutamento de Fibras Tipo II.
  3. Ações Hormonais: Caminho da Sinalização de IGF-1/PI3K/Akt/mTOR; Caminho da Sinalização de miostatina Smad2/3 e Fatores de Transcrição.

Uma melhor compreensão dos mecanismos acima pode levar ao desenvolvimento de programas de treinamento otimizados que maximizem as adaptações visando ao aumento de força e hipertrofia. Estas abordagens podem ser aplicadas em muitas clínicas hospitalares, programas de reabilitação e atletas, porém é importante estar atento à segurança ao optar pela utilização do método. Embora lesões resultantes deste tipo de treinamento sejam raras, existe a possibilidade da implementação inadequada resultar em efeitos colaterais prejudiciais, tais como hemorragia subcutânea e dormência.

O treinamento de oclusão vascular não interrompe completamente o fluxo de sangue nas artérias e veias, e de acordo com estudos em pessoas saudáveis, o método não causa prejuízo ao sistema de coagulação. As evidências apontam que o protocolo induz um estado fibrinolítico, que tem um efeito antitrombótico.

Devido à estagnação do sangue que ocorre durante o treinamento de oclusão, devem ser introduzidos testes de pontuação usado por cirurgiões para avaliar risco de infarto pulmonar e de trombose profunda para conduzir um treinamento mais seguro.

Avaliação dos fatores de risco:

A pontuação abaixo avalia os fatores de risco onde não deve ser aplicado o treinamento com oclusão para as pessoas correspondentes a 5 pontos ou mais (história de trombose venosa profundas; tendência trombótica hereditária; e síndrome do anticorpo antifosfolípide).

Em princípio, o treinamento com oclusão vascular não deve ser aconselhado quando se lida com pacientes hemodinamicamente instáveis, especialmente pacientes que sofrem de doenças cardiovasculares.

  • 5 pontos: Histórico de trombose venosa profunda; tendência trombótica hereditária; síndrome do anticorpo antifosfolípide.
  • 4 pontos: mulheres grávidas.
  • 3 pontos: varizes de pernas; imobilidade prolongada (incapacidade de 8 horas de reabilitação da tromboprofilaxia); fibrilação atrial ou insuficiência cardíaca.
  • 2 pontos: pessoas com idade superior a 60 anos; IMC> 30; hiperlipidemia; uso de contraceptivos orais ou esteróides adrenocorticais; quadriplegia; alto nível de hemoglobina.
  • 1 ponto: pessoas com idade entre 40 e 58 anos; mulheres; 25 <IMC <30.

Pontos importantes para realizar o treinamento com segurança:

  1. O treinamento de oclusão não deve ser fornecido ou aconselhado quando se lida com pacientes hemodinamicamente instáveis.
  2. O treinamento de oclusão não é aconselhável para pacientes com trombose.
  3. Faça uma adaptação à capacidade física dos indivíduos e sua condição. Evite homeostase com o torniquete.
  4. As pessoas mais velhas, doentes acamados e pacientes no pós-operatório muitas vezes têm trombose venosa antes da formação então tome muito cuidado.
  5. Certifique-se de que a pressão arterial seja <160 /> 95 mmHg.
  6. Evite conduzir o treinamento de oclusão por um longo período de tempo (membros superiores: 10-15 minutos; membros inferiores: 15-20 minutos).
  7. Em princípio, nunca conduza treinamento quando o paciente estiver doente. Nunca continue realizando o treinamento quando um paciente se sentir mal durante o treinamento.
  8. Quando não tiver certeza sobre a condição médica de um paciente é aconselhável evitar o método.

Até o momento os estudos com oclusão vascular são em sua maioria positivos para ganho de força, hipertrofia muscular e controle da reposta hemodinâmica, porém ainda são poucos e é necessário estudar cada caso individualmente. Através do controle desses cuidados e precauções citados no texto, o treinamento com oclusão pode ser um método potencialmente útil para promover a hipertrofia muscular, cobrindo uma ampla gama da população, incluindo pessoas frágeis, idosas,  jovens e saudáveis.

 

Referências:

1- Pravliic, A.  The history, theory and practice of restricted blood flow training (RBFRT/KAATSU).  Conference Paper FIS COM. 2014.

2- ACSM. American College of Sports Medicine position stand: progression models in resistance training for healthy adults. Med Sci Sports Exerc. 2009;41(3):687–708),

3- Takarada Y, Takazawa H, Ishii N. Applications of vascular occlusion diminish disuse atrophy of knee extensor muscles. Med Sci Sports Exerc. 2000;32(12):2035–9.;

4- Ohta H, Kurosawa H, Ikeda H, et al. Low-load resistance muscular training with moderate restriction of blood flow after anterior cruciate ligament reconstruction. Acta Orthop Scand. 2003;74(1):62–8.

5- Takarada Y, Nakamura Y, Aruga S, et al. Rapid increase in plasma growth hormone after low-intensity resistance exercise with vascular occlusion. J Appl Physiol. 2000;88(1):61–5.

6- Cook CJ, Kilduff LP, Beaven CM. Improving strength and power in trained athletes with 3 weeks of occlusion training. Int J Sports Physiol Perform. 2014;9(1):166–72.

7- Scott, Brendan R., et al. “Exercise with blood flow restriction: an updated evidence-based approach for enhanced muscular development.” Sports medicine45.3 (2015): 313-325.

8- Nakajima T, Morita T, Sato Y. Key considerations when conducting KAATSU training. Int J KAATSU Train Res. 2011;7(1):1–6.

9- Nakajima T, Kurano M, Iida H, et al. Use and safety of KAATSU training: results of a national survey. Int J KAATSU Train Res. 2006;2(1):5–13.

10- Pearson, Stephen John, and Syed Robiul Hussain. “A review on the mechanisms of blood-flow restriction resistance training-induced muscle hypertrophy.” Sports Medicine45.2 (2015): 187-200.

11- Ferreira MLV; et al. Influence of muscle mass on hemodynamic responses during different resistance exercises with and without blood flow restriction. Science & Sports, 2017 (4) 69-73.

12- Ferreira MLV; et al. Cardiac autonomicand haemodynamic recovery after a single session of aerobic exercise with and without blood flow restriction in older adults. J Sports Sci. 2017 Dec;35(24): 2412-2420.

13- May AK; et al. Hemodynamic responses are reduced with aerobic compared with resistance blood flow restriction exercise. Physiol Rep. 2017 Feb; 5(3).

14- Scott BR; et al. Blood flow restricted exercise for athletes: A review of available evidence. J Sci Med Sport. 2016 May;19(5):360-7.

15- Neto GR; et al. Effects of resistance training with blood flow restriction on haemodynamics: a systematic review. Clin Physiol Funct Imaging. 2017 Nov;37(6):567-574.

By | 2018-06-14T16:37:04+00:00 junho 12th, 2018|Sem categoria|0 Comentários

Deixar Um Comentário